domingo, 18 de dezembro de 2011

De poesias e de silêncios

Muitas vezes não são as palavras em si que interessam
o som que as preenche, seu sentido
Às vezes o intervalo entre uma e outra
entre um verso e outro
é que dizem do tempo

vejo um bando de pardais em uma árvore de eucalipto
à noite as ruas ficam desertas e iluminadas pela iluminação artificial
sento-me de frente a uma escola
do outro lado está a prefeitura
e no outro a rádio da cidade

a praça tem um anjo de luz com uma trombeta
parece que está a anunciar os acontecimentos de 2012
pelo que tem sido dito e propagado

contemplo tudo com a tensão de quem anda
- descanso ao andar -
o silêncio me preenche

...

interrompido apenas por alguns casais que passam suavemente rumo à praça da igreja

...
imagino cenas na praça
vejo-me sentado
imóvel

como a imobilidade mexe conosco

também o silêncio

é deste silêncio que vem a criação
é dele o sonho
a ventania

os astros celestiais

cidade de silêncios
meu interesse cresceu ao vir trabalhar aqui
acho que posso parir melhor

os nascimentos que gestei aqui

posso nascer melhor o que silenciei tanto tempo
sem desesperos
encontrando minha tensão harmônica

posso anunciar meu silêncio.


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esse silêncio não ausenta as sociabilidades
nem deixa de incluir os conflitos e necessidades de busca
esse silêncio não é tão neutro quanto pode parecer

no entanto, ele vê sereno
o que antes não se via organicamente
o ruído externo
e iterno
não permitiam sua presença

agora:
aprendendo a ser e estar

o silêncio nos acompanha em mais um som

assim nasceu essa partilha
é como se encontrássemos um ritmo
interno e suave
que não exclui a movimentação

mas que promove uma respiração

de silêncio

em silêncio

vamos compondo uma paisagem
nova

meu terreno é movediço aqui
mas, o que posso dizer em relação a tudo isso

é algo que ainda está me encontrando

silenciosamente